O nosso homenageado
Padre Manuel Antunes
O Padre Manuel Antunes é a figura em destaque nesta sétima edição da Maratona de Leitura.
No ano em que se assinala o primeiro centenário do seu nascimento, a Maratona associa-se às comemorações que estão a decorrer ao longo deste ano, promovidas pela Câmara Municipal da Sertã, em parceria com diversas entidades.
Natural da Sertã, onde nasceu a 3 de novembro de 1918, Manuel Antunes fez o seu percurso académico, sempre ligado à Companhia de Jesus, tendo completado os estudos humanísticos no Instituto Superior Beato Miguel de Carvalho (hoje Faculdade de Filosofia de Braga), onde se licenciou em Filosofia com a dissertação «Panorama da Filosofia Existencial de Kierkegaard a Heidegger».
Matriculou-se depois na Faculdade de Teologia de Granada (Espanha) e completou a sua formação religiosa em Namur (Bélgica).
No dia 15 de julho de 1949 recebeu a ordenação sacerdotal pelo bispo de Guadix, D. Rafael Alvarez de Lara, e celebrou a sua missa nova a 31 do mesmo mês na igreja de Nossa Senhora de Fátima, no Porto. Uma semana antes (24 de julho) já celebrara missa na igreja matriz da Sertã.
Voltou ao ensino para leccionar no Curso Superior de Letras da Companhia de Jesus e, em setembro de 1955, rumou a Lisboa para integrar a redacção da revista Brotéria, onde já colaborava e que viria a dirigir anos mais tarde (entre 1965 e 1982). A cultura e a filosofia eram os seus temas predilectos nesta influente publicação, a qual divulgou também vários textos de crítica literária da sua autoria.
Em outubro de 1957 o escritor Vitorino Nemésio, na altura director da Faculdade de Letras de Lisboa, convidou-o para lecionar as cadeiras de História da Cultura Clássica e História da Civilização Romana naquela instituição. Não era um convite usual, sobretudo porque Manuel Antunes não havia frequentado o estabelecimento como aluno.
As suas aulas foram seguidas por milhares de estudantes, alguns dos quais nem sequer estavam inscritos nas cadeiras que ele ministrava.
A sua produção literária era invejável. Além de dirigir a revista Brotéria (onde utilizou 126 pseudónimos, a maioria dos quais com apelidos inspirados em lugares do concelho da Sertã), colaborou com outras publicações, nomeadamente a Euphrosyme e a Revista da Faculdade de Letras de Lisboa, tendo assinado também alguns dos artigos que integraram a Enciclopédia Luso-Brasileira, da editora Verbo.
Na obra publicada, encontramos uma vasta lista de títulos, de onde se destacam: «Do Espírito e do Tempo» (1960), «Grandes Derivas da História Contemporânea» (1972), «Educação e Sociedade» (1973) e «Repensar Portugal» (1979).
Na fase de transição que se seguiu ao 25 de abril de 1974, foi convidado a integrar o Governo com a pasta da Educação, mas recusou.
Em 1981 recebeu o título de Doutor ‘Honoris Causa’ da Faculdade de Letras de Lisboa e, dois anos depois, nas comemorações do 10 de junho, o Presidente da República Ramalho Eanes conferiu-lhe o grau de Grande Oficial da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada.
O seu estado de saúde agravou-se a partir de 1983, vindo a falecer no dia 18 de janeiro de 1985 no Hospital de Santa Maria, em Lisboa. No seu funeral, marcaram presença algumas das principais individualidades políticas da época, como Mário Soares, Carlos Mota Pinto ou Francisco de Sousa Tavares. A Assembleia da República, em sinal de homenagem, guardou um minuto de silêncio em sua memória.